Relatos Vivos

Estes pequenos relatos biográficos vão aumentar aos poucos, provavelmente, não na ordem em que aconteceram, mas na que este autor for tendo a disposição mais adequada para escrevê-los.

Confissões

Quando penso na vida em geral, frequentemente, oscilo desde um sentimento leve de pesar pela finitude da vida presente - cheia, como está, de belezas, de bondades, de ciências, de artes, de conhecimentos, de realizações grandiosas, de carinhos, de amizades, de ajudas, de mistérios, de forças, de virtudes, de esperança, de confiança, de amor, e mesmo de males, todos manifestos nas pessoas humanas e suas obras e na Natureza - até um sentimento de júbilo apoiado na esperança da Eternidade, quando todas estas coisas e outras impensáveis ainda, menos os males, terão a sua almejada e silogística continuação infinda.

Por outro lado, quando penso em minha própria vida, amiúde, penso também no aspecto com que Lázaro mais chamava a atenção momentos antes de ser ressuscitado por Nosso Senhor. Alma pressurosa, desesperadamente necessitada de apenas um olhar compassivo da Santíssima Mãe, depois de meia vida de pecados originais desmedidamente agravados, em que sujidades tingindo fissuras enfermiças da alma desprendem de si olores molestos, que tanto degradaram equilíbrios e ânimos e tanto contaminaram sinceridades, mas ainda assim rogando esperançoso pelos Bens Espirituais vividos, presentemente, talvez apenas no interior, para tê-los plenamente manifestos no prometido futuro imortal em que alma, corpo e espírito serão perfeita e harmonicamente limpos e puros.

Toda pessoa traz consigo para o mundo algumas características marcantes e distintivas. Machado de Assis, por exemplo, que era, como dizem, gago, mas ao mesmo tempo, o maior contista da nossa língua, registrou a seguinte passagem em seu livro Contos Fluminenses:

O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento.

Este tal mar da vida existe em um Todo cujos limites ninguém conhece e cujas menores partes físicas conhecidas surgem, oscilam, se movem, passam e se desfazem sem que as leis naturais da Ação, embora expressando proporções e durações bem precisas, jamais possam nos ensinar sobre as suas essências, de onde vêm ou para onde voltam. Estes movimentos misteriosos insuflam e ascendem as velas da vida que conhecemos e tornam possível tudo o que daí decorre no mundo físico, no mundo humano e nas suas sociedades. E, eu recebi a oportunidade amorosa de entrar, de vez, neste fluxo misterioso da vida no primeiro dia de Junho de 1977, na cidade de Novo Hamburgo, por volta das 19 horas.

Outros Inícios

Tornar-me escritor foi quase um sonho não sonhado. Nunca imaginei que acabaria fazendo tal coisa. Não me achava e ainda não me vejo com os talentos, habilidades e possibilidades que penso que seriam os mais desejáveis. Com certeza, não entrei neste mundo das letras pela porta da tradição, erudição ou grande cultura literárias.

Eu, em verdade, já vinha arriscando pequenos ensaios cuja maior característica era a de serem pequenos. Lá pelos idos de 2016, um amigo indicou-me um livro sobre redes neurais artificiais e enquanto o estudava e apaixonava-me pelos aspectos matemáticos que modelam e descrevem a aprendizagem artificial, tentava sumarizar o assunto em pequenos textos explicativos que, à princípio, estavam sendo escritos apenas para os meus olhos e cérebro naturais.

Certo tempo se passou antes que eu notasse que eu não só estava escrevendo em demasia sobre o assunto, como também o estava aprofundando nas direções que mais me interessavam e, principalmente, aumentando o número de peças escritas. Estes escritos ficaram parados por algum tempo sem que jamais me ocorresse a ideia de transformá-los em livro. Até porque, eu não estava escrevendo qualquer novidade. Eu apenas explicava muito bem os conceitos que haviam recém impregnado a minha mente, totalmente. Este deveria ter sido o primeiro livro a ir para publicação, mas as coisas nem sempre saem de acordo com os planos iniciais.

Nem lembro bem como comecei a escrever sobre profecia bíblica, mas posso dizer que elas se tornaram cada vez mais importantes para mim à medida que, ao longo dos anos, eu comecei a perceber que algo delas poderia ser tratado de modo algebrístico desde a base simbólica. É possível ir muito mais longe do que isto na matematização de aspectos relacionados a certas profecias bíblicas já realizadas. Dou pinceladas muito superficiais sobre estes aspectos mais fundamentais no "Hackeando as Profecias", recém publicado.

Mas, é preciso que se diga que, por mais que seja possível alcançar matematizações nesta área - e não me refiro a arremedos numéricos -, há problemas importantíssimos e complicados, relacionados, por exemplo, à elucidação simbólica e, antes, à autenticidade ou validade dos símbolos ou dos documentos em que estes chegam até nós e que dependem, totalmente, da boa e velha capacidade intelectual equipada de sinceridade radical, nutrida com dados e informações pertinentes de todos os tipos e áreas de saber (e que, normalmente, não nos chegam todos ao mesmo tempo e nem a tempo!), confiante nAquele que propôs os símbolos, antes de mais nada, e paciente, pois a pesquisa paralela, como a histórica ou a arqueológica, por exemplo, que não acabaram de fazer as suas contribuições e, em verdade, estão a passar por revoluções - não apenas as fabricadas pela solicitíssima, adiantada e, no fim das contas, esterilizante crítica metodística, baseada, como está, em pressupostos de higiene teorética, mas, principalmente nos avanços de todas as áreas do conhecimento sobre a realidade concreta.

Assim, as letras para este escritor são muito mais as ferramentas ou os tijolos usados pelo operário de uma mensagem e de conteúdos do que os materiais finos do mestre artesão, usados de modo quase ritual, para a construção de uma obra de arte primamente acabada. Tradição, erudição, cultura literária e outros bens intelectuais, também preciosos, vêm, espero, com o tempo.